quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Dormindo de olhos abertos

Uma buzinada (de um carro, risos) e ela me diz, em tom firme e pausado: "chegou
o táxi, preciso ir". Seus braços compridos e torneados me envolvem com força,
minha mão passeia por seus cabelos lisos e longos.
 Trocamos um beijo rápido, porém intenso, e logo ouço o barulho seco da porta do
carro batendo. Ao fundo um rádio toca "I Wish You Be Here, do Pink Floyd. Em
segundos estou sozinho, na saída da estação, sentindo o cheiro da leve garoa.
Vejo a hora no celular e lembro que não há tempo para maiores devaneios - já
perdi o trem das 11, agora só restavam mais alguns e a estação estava prestes a
fechar. Me guio pelos espaços abertos, aperto o passo e tiro uma fina de uma
lixeira. Um piso emborrachado me diz que há alguma escada rolante próxima. Ela
me rejeita, demoro pra entender que eu queria descer e o sentido era inverso
(tivesse um pouco mais avoado a queda seria certeira). O odor do perfume
amadeirado daquele rosto agora se misturada ao de borracha queimada. O sistema
de som agora informa que o último trem partirá com destino à Estação da Luz em 2
minutos. Faço cara de desespero, ando em círculos achatados e nada de outra
escada. A antena do rádio de um segurança roça em meu braço, onde depois ele
segura e me conduz até o elevador, dizendo "delta victor na saída norte, qap na
escuta?".. Outro homem alto (suponho pela dificuldade que tive em alcançar seu
braço) me aguarda na porta e, ainda dentro dos 2 minutos, quando me dou conta já
estou sentado, aliviado. Escuto o "Próxima Estação, Prefeito Saladino", enquanto
minha cabeça começa a querer pender para baixo. O trem freia lentamente,
arranca, mas não mais presto atenção no nome da próxima parada - apenas sinto o
movimento, enquanto a cabeça roça um dos balaústres da composição (ô nominho
estranho..). De repente ouço uma voz, que parecia vir do fim de um corredor:
"Registro, 30 minutos pro café!". Faço a mesma cara de perdido daquele que
corria em círculos pela estação, esfrego os olhos, dou uma bela espreguiçada e
pego o celular do bolso. 03:17 de uma madrugada de sexta para sábado. Quando a
mesma voz do corredor põe sua mão pesada em meu ombro e me pergunta se vou
descer me situo que estava dormindo em um ônibus, e não num trem, e que em menos
de 3 horas estaria em Curitiba. Ali acabava um sonho, mistura de "dejavu" com
devaneio. Agora era descer pra tomar o tal café, comer um porcaritus ou
simplesmente alongar as pernas.
Espero ter passado uma noção de como são meus sonhos: sempre sem cores, mas por
vezes cheios de detalhes. Cheiros, barulhos, objetos, escadas - não os vejo, mas
os sinto como se estivesse acordado. E não são assim mesmo os sonhos, dando
aquela impressão de que aconteceram fora do mundo das idéias, até que nos
situemos nos limites de uma cama, ou de um banco de ônibus? Sonho como vivo,
embora eu bem mais viva do que sonhe, risos. É claro que quem já enxergou têm
memórias/vivências diferentes das minhas, então poderá sonhar com a feição de
alguém, um arco-íris ou um por do sol no Arpoador. Eu talvez imagine uma voz
macia me contando detalhes da paisagem, sinta a briza do mar e o queimar da
pele. Precisa de mais alguma coisa?

2 comentários:

  1. Agora sei como são seus sonhos, Dudu... Exatamente igual ao de todo mundo, só que sem imagens. Uma mistura de momentos vividos no passado e situações da atualidade. Prova de que somos todos iguais e que sonhamos sonhos diferentes, mas que se processam da mesma forma...

    Bjsss

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  2. A grande pergunta que fica é realmente esta, precisa de mais alguma coisa? As vezes temos gratuitamente um beijo, um abraço, um sorriso, um carinho, um céu estrelado, um vento acariciando o rosto e não damos a devida atenção, mal sabemos que aquilo quase nos basta, ou pelo menos serve para muita coisa! Precisa mais? muitas vezes não!

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