quinta-feira, 11 de julho de 2013

Noites Produtivas de Julho

Nem tão frias como as do começo do outono (choque térmico), nem tão quentes
quanto às que encerram a primavera. As noites do mês que divide o meio do ano
com seu antecessor são assim medianas, maiorais (muitos estão em férias),
murmurosas. Já não há mais a necessidade de inventar novas metas, pular 7 ondas,
ligar para os esquecidos para saber das velhas novidades. Também já não há a
correria dos shoppings, os sorrisos de boas festas, as orgias alimentares.
Crianças rabiscam no concreto um chão de areia, fazem da bruxa de papel uma
sereia. Adultos ainda não moços nunca acordam em tempo para o café, mas reclamam
da vida no Twitter. Adultos já moços se ressentem por não terem tempo nem
criatividade para poderem riscar o chão de areia. Moços já bem adultos reclamam
dos rabiscos, mas pedem para os mais novos fotografarem e guardam na cabeceira
dos pensamentos. E todos pintam o sete antes que venha a oitava fatia do bolo.
Logo já é começo de outono, logo fim de primavera. Noites produtivas de julho,
não tenham pressa ao amanhecer.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Domingo no Parque

Num carrossel de pensamentos, numa montanha russa de emoções. Num barco Viking
de enjôos, numa gangorra de sentimentos. Numa xícara de alívio e tontura, num
elevador que sempre cai. Eis o parque de diversões de meus devaneios

Vida Nada Seca

Quase todas as noites em claro ele a deixava molhadinha. Com suas histórias
autruistas, seus devaneios egoístas, suas desculpas a se perderem das vistas.
Todas as manhãs entornava os copos das lágrimas derramadas. Numa tarde de
intensa secura nos olhos, ela quebrou o vaso que ganhara na cabeça do próprio
semeador de prantos.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Feliz aniversário, envelheço na cidade

E naquele 2 de julho eu pegava o Cometão das 0:20 um pouco mais carregado que de costume. Daí em diante voltaria inúmeras veses pra Curitiba
(ou São José), mas agora como destino de ida. Tão difícil a partida, tão esperada que já quase fácil a chegada. E a estrada desses 60 meses
foi sinuosa, às vezes caótica, mas cheia de boas paisagens. Mais que grato a todos os motoristas que fazem parte desse quinto aniversário!
Em edição comemorativa, 5 caquinhos escritos nessa longa madrugada:

No Viaduto do Chá, ela me abrigou, ainda que seu destino fosse a outra mão, no seu guarda-chuva. Na Rebouças, ele aproveitou o trânsito
parado pra descer e me ajudar na travessia. À procura do Sesc Santo André, ela ouviu minha conversa no telefone e desceu no mesmo ponto só
pra não ser dirigido pra "comunidade" ao lado do local. Na 25, ganhei vuvuzelas só por ser corinthiano confiante, e na Achiropita fogazza
por ser amigo do Tocha, morador de rua que sempre me dá uma força ao driblar os faróis. No Tatuapé, a senhorinha quis se levantar pra eu
acomodar minha pesada mochila, mas se esqueceu da idéia quando desembarcamos falantes, ambos na estação errada. No São Luís, ninguém sabe
que sou Luiz, mas tenho muito mais que 2 nomes por lá.. E assim vamos indo, da Consolação ao Paraíso, do Carrão ao busão lotado. O bilhete é
único, mas as possibilidades são múltiplas

Aí Caetano.. Alguma coisa acontecia no meu coração quando cruzei a Ipiranga com a Avenida São João.. Cruzei na diagonal. A pista parecia
interminável, desfavorável ao único de duas rodas e um cano. Olhos atentos me acudiram do inoportuno desatino.

Quantas Marianas efetivamente moram na Vila Mariana? Quantos podem se dar a esse lucho na Vila Carrão? Ronaldo conheceu a General Jardim?
Melhor um Paraisópolis ou uma Bela Vista? Mais confortável morar na Saúde ou no Socorro? O último trem pro Jaçanâ ainda sai às 11? A
Mocidade Alegre resolveu novamente sair às ruas? Quantas bundas abastecem o Tietê? O Ibirapuera é nossa praia, mas a Atlântica fica mesmo
perto da Guarapiranga? Nossa independência começa no Posto Ipiranga? É, Criolo.. Aqui ninguém vai pro céu, que a pista sentido Paraíso tá
engarrafada de 23 de Maio a 9 de Julho.

Na São Silvestre cotidiana, subi Augusta abaixo e cheguei ofegante no Masp. Bandeiras me abraçavam, buzinas me cegavam. Gritamos, pulamos e
comemoramos o que era pra ser.

- Essa cidade não presta. Olha só essa calçada!
- Verdade.. Vai atravessar também?
- Isso, vou pro metrô, vai pra lá também?
- Sim, vou ali perto.
- Olha, moço, não fica andando sozinho por aí hora dessas não.. Nas tuas condição, acho que não é legal.
- Entendo. Mas moro por aqui, muitos já me conhecem.
- Sei, mas é sempre bom ficar de olho aberto né.. Essa cidade anda estranha. Lá donde eu vim tudo fecha umas dez, só o boteco
da praça
central que fica até o último fiador.. Mas sabe quê, moço, aqui é que as coisa acontece. Nesse monte de gente sou só mais
uma, posso fazer o
que eu bem entender.. E aqui me deram oportunidade, hoje tenho apartamento e filhos criado..
- Vou ficar por aqui. Brigadão viu!
- Magina, meu filho.. Com Deus viu, quando for a Minas não deixa de provar nosso tropeiro.