domingo, 27 de novembro de 2011

Vai Corinthians!

Lembrando aqui de um jogo da Libertadores ano passado. Gol do Timão, corri pra
varanda com a vuvuzela que já nasceu em mim e desandei a gritar. Aí escuto de um
prédio próximo: ô vizinho, é nóis, olha aqui, olha aquií! Virei o pescoço para
todos os lados, simulando olhar.. E depois pensei: espero que seja uma bandeira,
uma camisa. Já pensou se o cara tá fazendo um bunda lelê ou algo parecido e eu
fingindo dar a maior atençãoa? #vaicorinthians!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Mudanças de tempo

Disseram que o tempo ia mudar, e mudou. Quando saí para o almoço eram 14:53, agora já passa das 15:35. Parti seco, esfomeado; cheguei farto, molhado. Não fosse isso, nada mais teria mudado.
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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Rio 40 degraus: uma história sem corrimão

Lá na casa do Catete, sonzeira que Botafogo. Ela chegou toda Mimosa, arrasando
Bangu. Um Flamengo, outro Flu. Construíram um Castelo sem Pilares, no Centro de
uma ilusão passageira. Num domingo de Ramos, discutiram tão intensamente que a
praia ficou vermelha. Do Alto da Boa Vista, janelinhas se abriam pra ver e ouvir
aquela Usina de intempéries. Foi um banho de Mangueira em pleno inverno. Perdeu
o Leme, afundou-se na Água Santa. Saía por aí feito um Zumbi, ou então um
Jacaré, se embolando em suas próprias ondas. Chorava Pitangueiras, um passado
sem Glória. Santo Cristo, tende Piedade do pobre Juca. A Maré não tá pra peixe,
mas a coisa Irajá melhorar, tenha Paciência. Acendeu uma lapa de vela pra São
Conrrado, subiu de joelhos os degraus da Candelária, implorou pra Santa Teresa -
foi uma Barra. Ai de Tijuca! Você Benfica sem ela ao Andaraí a procura de um
Encanto na Cidade Nova. Sua Garota de Ipanema, ou alguma Maria da Graça, te
espera em Copa: numa cabana, no campeonato mundial ou no alto de uma árvore,
como um passarinho a procura do Bonsucesso. Olhando bem no Fundão de uma garrafa
de vinho roubada do Padre Miguel, cantará em breve um sambinha no Recreio, mais
ou menos assim: "Olaria, Olariá, é com ela que eu quero me casá.." O velho Cosme
tinha razão: Cascadura, coração mole.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Mais divagações sobre o domingo e o resto da semana

Certa vez, no auge de alguma alegria passageira, escrevi que não era bom
confundir os personagens de domingo com os de segunda. Lí por aí que a
aposentadoria é uma condenação ao domingo perpétuo. Carolina Bensino,
uma conhecida anônima de Google, tem uma visão interessante da semana:
de domingo a quinta-feira ela espera o príncipe encantado, sexta e
sábado sai a procura do lobo mau. Chico Sá diz que quem gosta da 2ª é
porque tem um caso na firma. Tem uma música que diz que todo mundo
espera alguma coisa de um sábado à noite, mas é na noite de domingo que
o esperado se materializa nos pensamentos sem fim. DIsseram também que o
mal do domingo é anteceder todas as segundas, mas concluo que é fato que
2/7 de nossas vidas se passarão num desses 2 dias. Então boa terça, que
a quarta parte desse bolo não seja de quinta, esquecida numa sexta!

domingo, 6 de novembro de 2011

É dia de domingo

Começo de manhã, calçadas ainda carregam resquícios de um fim de noite.
Latinhas, bitucas, vidros quebrados, pedaço de um salto. O cão fareja aqueles
escombros com avidez, late para alguém que batia uma vareta no chão e sai
correndo no farol vermelho. Mas é manhã de domingo, carros andam sem pressa, sem
buzina. Como um cão sem dono o homem de terno preto e tênis All Star entorna o
último gole, coça os bigodes e tenta lembrar onde deixou o seu possante. Uma
página de jornal balança com o vento, mostrando os próximos capítulos da novela
da semana. A moça, toda de branco, segura a página com firmeza, dá uma bocejada
e chinga o motorista, que parou fora do ponto. Fim de plantão, o sono dos justos
começará antes da segunda curva. Na padaria uma boneca bombada pede uma média,
olhando desconfiada para o carro que quebra o silêncio com seu alarme. Pouca
coisa acontece, pouca coisa a apetece na estufa de salgados já quase vazia.
Horas mais tarde casais passeiam de mãos dadas no centro financeiro do país.
Crianças felizes escolhem o brinquedo que virá de brinde no lanche. Com olhar
menos vibrante, a moça de avental lava xícaras em um café, assoviando uma música
talvez ainda não composta. Os dois bonitões do balcão despertam sorrisos, caras
e bocas. Um fala sem pausa para respirar, o outro acaricia o visor do celular.
Na macarronada em família, a tia solteirona conta de suas últimas aventuras em
Amsterdã, mas é interrompida pelo primo mais velho, que se queixa da bateria do
olodum que toca só na cabeça dele. Desejando postergar a ressaca para o próximo
dia útil, coloca mais gelo e enche a boca, fazendo um sonoro gargarejo. O caçula
acha graça, ao contrário da mãe, que faz cara de nojo. Com o copo metade cheio,
ou metade vazio (os engenheiros diriam que o recipiente tem o dobro do tamanho
que deveria ter), sai da mesa ao ouvir o grito de gol ecoando pela vizinhança.
Por essas bandas o consumo de picolés deve ser alto, é um tal de "chuupa" pra lá
e pra cá. A avó larga a agulha e o fio ao olhar para o relógio, é dia de baile.
No outro canal um entediante jogo sem gols. Não é sexta-feira santa, nem um
outro feriado, mas tudo está fechado, diz a música dos Titãs. Mas a trilha
sonora do fim do primeiro dia da semana é a musiquinha daquele já não mais tão
fantástico programa de tv. Acompanhando a tal revista eletrônica, é hora de
arrumar a lancheira, fazer contas, a lista de compras do mercado, espiar os
babados do fim de semana na internet, ligar para a vizinha pra dizer que amanhã
não vai pra academia porque o carro quebrou e a previsão é de chuva. Os
piadistas do futebol diriam que em Curitiba tem até risco de Furacão na segunda.
Namorados se despedem no portão, ele canta "faz de conta que ainda é cedo". Na
noite já passada foi mais criativo: perguntou se ela queria acordar com uma
ligação ou uma cutucada, e assim acabaram passando o dia juntos. E, depois de
descansar sem estar cansado, é hora de rolar na cama e esperar o sono chegar,
descompromissado como esse texto. Começa a contagem regressiva para o próximo
final de semana. Para o pessimista, existem sete segundas-feiras na semana. Para
o otimista, é o dia mais longe da próxima segunda. O sábado ficou ainda mais
para trás, mas não pareceu sobrar como o dia que o sucede. Espremido entre os
dois dias, domingo é a mais perfeita tradução de paradoxo: dia chato, que a
gente não quer que acabe.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O nome das rosas: anônimos a favor do relógio

Saio do trabalho meia hora antes, como de praxe quando vou viajar no
horário das 20:40. No caminho para o metrô, uma simpática moça, suponho
que de meia idade, pergunta se estou indo para a estação. Com os minutos
contados, uma rápida insistência para que eu fosse à Igreja dela, que
devia se chamar Falamansa: pra cego ver, pra surdo ouvir. Prestando
atenção a passos largos, minha única certeza é que eu iria ao Paraíso,
fazer a infernal baldeação para a linha Azul, rumo a São Judas. Mas o
processo demorou algum tempo a mais que o mentalmente rabiscado, porque
a funcionária afirmava que os 2 ou 3 trens que chegavam pareciam
sardinhas enlatadas. Por sorte eu não estava com fome, e sim com pressa.
Desço em São Judas e outro simpático funcionário me conduz até a saída
indicada. Penso em olhar o relógio, mas me deixo levar pelo fluxo.
Alguns metros e ouço: "medalhinha de São Judas é um real!", "olha a
água, gelada, gelaáda"! Desvio um poste, faço coceira num orelhão, um
anãozinho dispara na diagonal. Dali pra frente eu lembrava que os
obstáculos aumentariam em medida igualmente proporcional ao número de
pessoas, mas ela apareceu, perguntou para onde eu ia e, por sorte, nosso
destino era o mesmo ônibus. Eu ensaiava uma respiração mais longa quando
ela me diz que a rua estava fechada, se mostrando também bastante
surpresa. A placa no ponto indicava a nova parada e a alteração de
itinerário, explicado pelo gente boa da lanchonete. Não foram nem 10
minutos de caminhada e a conversa animada novamente me fez esquecer da
máquina engolidora de segundos geralmente presa ao pulso. Chegamos na
parada junto com o ônibus, o trânsito parecia livre, leve e solto. Ela
desembarcou primeiro. Vi as horas no celular, ainda estava no tempo
regulamentar. Abro o facebook, a procuro, leio outras bobagens, divago
como teria sido difícil achar a nova parada sem ela
e, de repente, lembro de perguntar ao motorista se está longe do ponto
do aeroporto. Minha calma imediatamente foi esquecida diante da fala do
condutor: "Aeroporto? Já passou faz uns 3 pontos, meu jovem, você devia
ter me avizado antes"! Aí foram conversas geográficas, como qual o ponto
mais próximo pra eu pegar outro voltando. Minhas costas ficavam cada vez
mais molhadas quando o homem dizia coisas do tipo: "Chi, é muito
difícil, você vai ter que atravessar ali e entrar na outra rua lá".
Chegamos a conclusão de que seria mais fácil descer no corredor da av.
Santo Amaro, onde pegaria outro no mesmo canteiro. Só que o trânsito não
colaborava, então desci um ponto antes e segui no tal corredor em
direção à Ver. José Diniz. Difícil era saber se a esquerda ficava pra
direita ou vice-versa ao desembarcar já pela esquerda do busão e com o
pensamento no relógio. Já em terra firme e com o mínimo de lateralidade
restabelecida, pergunto para o primeiro que aparece para qual lado fica
o semáforo mais próximo. Nessa altura esqueci da minha fobia de
corredores, onde uma deslisada mínima para qualquer um dos lados parece
te por na mesma passagem por onde voam os coletivos, cuspindo barulho e
fumaça. Pouco depois o que bem me recordo foi um senhor perguntando onde
eu queria chegar, dizendo um "já volto" para a filha e, carregando uma
pesada sacola de doces, me fez companhia até a parada do novo ônibus.
Comprei uma pipoca doce, que minha mãe é fã, e ele insistiu em me
devolver o troco. No ponto outro passageiro que pegaria também o São
Judas, mas parecia não ter pressa alguma. Nessas horas puxo papo para
evitar falar com o relógio. Minhas costas ainda encharcadas de suor, não
resisti e vi que faltava pouco menos de 15 minutos para o horário máximo
de tolerância para o embarque. Indaguei se naquela rua, onde quase não
passavam sequer carros (nem sinal do bendito busão),
havia algum ponto de táxi próximo. Ele disse que sim e, com a força do
pensamento, eis que surge um carro com letreiro no teto (na verdade
nunca parei pra pensar se o tal letreiro fica em cima mesmo). E, com a
ajuda de tantos anônimos, cheguei em Curitiba. Nos últimos tempos alguns
desses anônimos viram contatos no Facebook, gerando a expectativa de um
segundo encontro, acidental ou não. Mas a verdade é que, ainda que eu
nunca mais os veja, cruzam o meu "jardim da vida" e dão mais graça e agilidade:
estão na próxima esquina, nos labirintos dos shoppings, na fila do
teatro, na rota apressada para o trabalho ou na calada da noite.
Exemplos não me faltam, mas esse foi o que fechou o mês de outubro. Já
novamente em Sampa, embora o frio de 12 graus me faça crer que ainda
estou na fria terra das araucárias.