quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Chegada na quebrada da noite

O ônibus vem vazio, macio. Ainda que eu insista não carecer, o cobrador
e sua mão pesada me conduzem até a calçada do ponto: um corredor
estreito para os humanos, um vaivém paralelo de barulhentos
biarticulados quase que a abraçá-lo. Nenhuma alma respirante, pra me
puxar feito barbante, em caso de algum desatino mais agravante. O ouvido
cega, os pés dão paços milimétricos para frente à procura de algum poste
ou piso tátil, enquanto um roncar mais grosso quase deixa minha bengala
não mais retrátil. Respiro fundo; o ar vem impregnado de cigarro
paraguaio e algum destilado químico. O nóia mais nóia praticamente late
que sabe de onde venho, me mostra o outro lado da rua num ziguezaguear
ligeirin. Raspo a mão numa lixeira, me despeço já quase no fim. Demora
muito não, já tô no meu portão. E ele pra onde vai será, assim sem
nenhuma chave na mão? Boa noite quebrada, ou já bom dia; tamo junto
nessa travecia