terça-feira, 19 de julho de 2011

Criando coragem

Quem me vê contando piada, as vezes sendo eu mesmo o personagem, tando de copo
cheio ou vazio,
 questionando tudo e correndo ladeira acima com meu cajado não imagina que em
certas situações toma conta de meus 1,65 uma gigante vergonha. Talvez não de
mim, mas da situação. Acontece, por exemplo, no mercado (daí eu ser adepto
incondicional do delivery, como já relatei antes). Farmácias, mercados e
restaurantes são facilmente encontráveis pelo cheiro, barulho de carrinhos,
pratos, maquininhas comedoras de dinheiro (débito, crédito ou outra espécie de
roubo autorizado). Eis que entro no recinto e faço aquela expressão de perdido,
atraindo alguém com uma cara ainda mais de desencontro. Isso pode demorar
segundos ou pequenos múltiplos deles, que parecem uma eternidade. Daí ser paixão
à primeira vista quando a pessoa me olha com firmeza, bate em minha mão com o
cotovelo, diz um simpático boa tarde e já vai direto ao ponto. Escuto vozes,
reais e imaginárias (ao mesmo tempo): será que ele precisa de ajuda? Vou ver com
ele. Será que ele tá sozinho? Será que ele ouve? (se for numa cidade
cosmopolita, acrescente-se o "será que ele fala português?"). Essa pessoa pode
tar acompanhada, aí as perguntas se repetem para a outra: será que ele precisa
de ajuda? Você vai lá perguntar? Sim, e o ouvido abrido vai captando,
processando. As vezes crio coragem e dou um paço à frente, tento abrir um
sorriso, dando a entender que sou um vivente qualquer.
Num passe de mágica, que as vezes requer mais alguns olhares vagos ou palavras
que depois não me recordo, a moça do caixa, a cozinheira, o da balança ou algum
garçom põe a mão no meu ombro e, bandeja em punho, desfila salão a dentro me
descrevendo o buffet. Se for prato pronto é ainda mais fácil. A primeira
aproximação é complicada, mas a segunda já flui quase tão natural que eu almoço
por lá a semana toda, ainda que o preço não seja dos melhores, que fique um
"TIQUINHO" fora de mão (essa lembrando dos queridos mineiros). Na semana
seguinte caio na real que tá na hora de conhecer outros lugares, e quem sabe lá
também ficar conhecido. E isso é fantástico porque, passado o choque inicial,
cria-se uma certa cumplicidade ou aproximação. A moça do restaurante já sabe que
eu não gosto de abobrinha, o caixa do mercado me lembra que não peguei leite. O
motorista do ônibus já sabe que vou descer na ruazinha depois da concessionária,
ainda que eu fique mais de dois meses sem ir a Curitiba. Talvez seja um pouco
chato na hora de comprar preservativos, risos, mas nunca ninguém me
perguntou para quê eu precisava - a menos que eu desse liberdade para
tal. É que às vezes essa proximidade torna-se estranha, principalmente
aos olhos de quem vê de fora. Mas devo admitir que eu mesmo já passei
por alguma dúvida, embora aí talvez eu me feche, tentando corresponder
ao profissionalismo de quem está ali tão somente para auxiliar. Essa
dúvida entre alguém que executa seu trabalho com extrema presteza ou um
eventual algo a mais talvez mereça outro capítulo, embora eu não tenha
grandes histórias para contar sobre. Mas vale lembrar que apenas meu
olho é quase de ferro (a bengala).
nem sempre a primeira impressão é a que fica, nem sempre a última é definitiva.
E nem sempre começo a escrever sobre algo e termino falando dele. O importante é
que, depois de alguns minutos babando no teclado, você já deve tar começando a
sacar como as coisas funcionam por aqui. Então fique à vontade pra comentar,
perguntar.. Foi da curiosidade de amigos ou de tantos braços anônimos que nasceu
esse espaço. Valeu por existirem!

Um comentário:

  1. incrível!! seu dia-dia lembra-me um filme que assisti já a algum tempo, chamado" liberdade para as borboletas"... a sensibilidade é uma coisa fantástica,são para poucos. nem eu a tenho tanto,apesar de ter 6 graus em cada olho de miopia e astigmatismo.rsrs..

    bjão

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