terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Chica from Ipanema

Atrasado, mas jamais sonegado, feliz 2012! Há cerca de 6 meses, retornando do
Rio de Janeiro, escrevi um diário de viagem (para mim, praticamente um álbum de
fotos), e surgiu então a 1ª postagem. Passei a virada de ano naquela cidade que,
apesar da chuva, continuava maravilhosa. Dessa vez não trouxe tantas histórias
para contar, mas foram 3 dias também bastante intensos. Um ensaio de sono foi
quebrado antes mesmo de o avião decolar: "bem-vindos a bordo, aqui quem vos fala
é o comandante Pedrada.." Foi tudo muito rápido, quando me dei conta já digitava
alguns torpedos no celular, no 6º andar de um hostel que consegui reservar na
última hora. Feito o reconhecimento de área, facilitando uma localização quando
o gps já se encontrace levemente avariado, parti para a Tijuca para almoçar na
casa de um amigo - o mesmo que passou comigo a virada. Na volta senti como seria
a energia de passar mais uma troca de página de calendário em meio a 2 milhões
de pessoas: "motorista, para não", dizia alguém batucando no vagão lotado do
metrô. Fiquei hospedado a nem 500 metros do Copacabana Palace, onde ficava o
palco principal, e a 120 da estação Cardeal, mas meu mapa mental não era a prova
d'água naquele mar de gente. Pergunta ali, faço o caminho meio que por intuição
(porque até a hora de ir embora não consegui entender a tal da bifurcação que ia
para a Atlântica ou para a Barata Ribeiro). Cheguei já com uma leve garoa, que
só variou de intensidade durante os próximos dias. Gringos se animavam com as
"caipirrinhas", jogando bilhar. Encontrei meu amigo, acompanhado de mais duas
amigas dele, na porta do hostel. Chegamos pouco antes do show do Rappa começar,
mas elas não gostaram da aglomeração e decidiram ficar por ali, onde daria pra
ver legal a queima de fogos. Felizmente, sem eu sequer me manifestar, ele
decidiu seguir um pouco mais, propondo encontrá-las depois do foguetório.
Lembrei de trecho da música Ronda: "desista, essa busca é inútil". Alguns metros
depois de termos nos separado delas, a circulação não era ruim e dava pra ouvir
sem esforço. Rappa botando pra quebrar - músicas conhecidas acompanhadas em um
coro crescente. Conversa com um, com outro e, no fim de 2011, descobri que a
Mulher Melancia canta: "você você você quer..". Quando o meu birigético já não
descia mais, já virado para o mar para esperar os primeiros tiros coloridos,
apareceram uns mineiros muito engraçados e aí, uai, eu quis terminar o ano de
mãos livres. Não esperem descrições maravilhadas dos fogos, porque realmente
fiquei com aquela cara de paisagem, mas realmente fiquei curioso quando a
multidão extasiada aplaudia os tais espirais. Os ânimos se acalmaram, até de
mais, no show do Latino, que não conseguiu empolgar nem quando tocou "Festa no
Ap". Depois daquilo, David Guetta seria no mínimo incrível. E foi! Aquela
energia toda e eu imaginando ainda os tais espirais, botando o robozinho pra
chacoalhar. Já no fim do show a garota de ipanema apareceu na minha frente, numa
esfregada sensacional. Esbocei um "feliz 2012" e quis saber quem era aquela que
dançava ali tão perto, o suficiente pra eu poder enxergá-la com o corpo. Senti o
"boas entradas" em meu bolço, mas eu ainda estava com os reflexos bem apurados -
felizmente não ao ponto de quebrar os dedos que mal chegaram a roçar em um drops
de halls e alguma outra porcaria que habitavam minha bermuda. Fiquei puto, parei
de dançar. Meu amigo disse alguma frase pronta que me fez pensar que enquanto eu
me divertia o mané trabalhava, e provavelmente teria de dividir o lucro com a
garota do Cantagalo. Quando a bateria da Beija-flor subiu ao palco meu ritmo já
era o do show do Latino. Meia hora de argumentação em um inglês de pastelaria
com um italiano e chegamos a um consenso sobre a chave do quarto que faltava:
era melhor deixar a porta encostada e pensar nisso no dia seguinte. Depois de um
banho frio, veio aquela clássica preguiça de dormir. Tomei a saideira no bar do
hostel, arranhando um pouco mais no inglês, no portunhol e até no gesto -
obviamente essa comunicação pra mim só funciona de forma unilateral. Acordei
tarde, fui almoçar num restaurante já por mim bastante conhecido e, advinhem
quem encontrei? Ele, o comandante Pedrada! Depois, como ainda não aprendi a
chegar à Ipanema, caminhando na pista da Atlantica fechada para carros vaguei
por umas 2h entre o Leme e o Arpoador. Delícia sentir aquela garoa na cara, sem
ter que se preocupar com postes, com horário. Certamente 2012 guardará alguns
domingos de caminhada naquele lugar. Já com as pernas cançadas teve seção de
piadas no hostel, conheci o amigo brasileiro do italiano da chave. Se a cidade
da garoa não era mais São Paulo, o jeito era retornar para lá. Dessa vez
certamente não encontraria o fatídico comandante, porque a volta foi de Gol
(grande ônibus lotado). Na plataforma da Estação Trianon a metroviária me
pergunta: tá vindo de onde? E eu, ainda viajando, disse que vinha do Rio. E ela
responde: "não moço, quero saber de que estação você veio!". Já era noite de
segunda, já era o segundo dia do ano. E aí, por alguns segundos, me peguei
pensando: de onde vim, para onde vou? E de onde veio o casal que pretendia fazer
a faxina na virada? Do Vidigal, de Cantagalo, da Mangueira? Quem sabe ele
residisse ali mesmo em Copa, num apertamento com mais 8 colegas, e precisava
acertar as contas com o inquilino, com o passador ou o bicheiro? Alguns dias
depois assisti ao filme "Era uma Vez", que conta a história de um honesto
morador do morro que teve um romance com uma patricinha de Ipanema. Pelo nome do
filme, não é difícil deduzir que não há final feliz. Ouvindo um samba chamado
"Nomes de Favela", percebo que tudo se deforma, se reforma, se transforma. E aí
termino o texto sem formar uma opinião concisa sobre de onde vieram, para onde
vamos, quem verá e quem vencerá. Só sei que 2012 já é, e em breve já era!

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