segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Uma imagem vale mais que 1000 palavras?

No último tópico que aqui escrevi, tentei relatar a estranha sensação de
compartilhar uma foto, curtida e comentada no Facebook, mas que eu nunca tinha
visto. Naquele dia, à espera de uma bela feijoada na quadra da Vai-Vai, uma
imagem mostrando talvez eu sorrindo, um copo e várias pessoas lá embaixo talvez
sintetizassem melhor o que eu queria dizer do que um "chega aí meu povo, a
cerveja tá gelada e tá bombando!". Alguns dias depois o acontecimento a ser
registrado foi o carnaval, com suas cores, luzes, alegorias e fantasias. Outra
foto compartilhada (eu com a fantasia, pronto para desfilar no Sambódromo do
Anhambi) rendeu bons comentários. Dessa vez eu tinha mais elementos "paupáveis"
para entender aquela imagem: já tinha explorado a fantasia - mas quantos outros
rostos apareciam ali, algum outro letreiro, parede ou carro alegórico? O que o
flash é capaz de realçar ou apagar? Uma "audiodescrição" ajudaria bastante, mas
nem sempre é possível entender tudo o que se passa na cabeça de quem lê uma
imagem. Isso me dá um misto de resignação e fascínio, que me fez prestar mais
atenção nessa forma de compartilhar e relembrar momentos. Por outro lado, penso
existirem coisas que as lentes não são capazes de registrar: a emoção quando o
locutor anunciou a entrada da escola, fazendo o coração entrar no ritmo da
bateria; o suadouro por conta da sapatilha pra lá de apertada e pelo chapéu que
a cada mínima chacoalhada eu tinha a certeza que cairia; a vibração vinda das
arquibancadas. Para mim, os relatos são fotografias, capazes de me transportar
novamente para aquele momento. Aí é que, para além da vontade de compartilhar, o
blog surgiu também como um diário, um álbum. Vale resgatar trecho da 1ª
postagem: "Valeu Paulete, Xan, Rodrigão e todos os outros cujos nomes minha
memória não foi suficientemente precisa para resgatar, mas estão registradas
como um vídeo feito
de sons, risadas, improvisações e cevadas, numa imagem pra lá de perfeita."
Imagens são imediatistas, curtas e diretas como um tweet; textos demandam uma
interpretação, um "imaginar". A foto de um cenário de guerra chama mais a
atenção que a manchete "cenas de barbárie na quarta-feira de cinzas" - mas só a
imagem não daria conta de descrever onde e o porquê. Falando em imaginar, eis
uma pequena definição que achei em algum dicionário virtual: "conceber alguma
coisa, criá-la, fantasiá-la". Crio então minhas imagens, baseadas na
adivinhação, na fantasia daquilo que julga-se como real. Aí talvez resida a
diferença entre ler um livro e assistir ao filme narrando aquela mesma história.
Não a toa encontrei como sinônimos para "imaginar" as palavras adivinhar,
fantasiar, julgar. Ao ouvir os trovões, advinho que o céu está preto, mas esse
preto para mim é algo fantasioso, abstrato: carvão, ausência de luz. Ao som da
bateria, viajo vibrantemente no meu carnaval monocromático: penas, lantejoulas,
uma mão feita em um material que lembra garrafa pet. Num mundo de imagens, fatos
e fotos, a imaginação e as palavras correm soltas, restaurando momentos que
fogem da rotina, ainda que sem passar pela retina. Navegar, imaginar e registrar
são mais que necessários!

Um comentário:

  1. Engraçado estava discutindo exatamente isso esses dias com amigo fe, de como somos educados e condicionados a responder a imagens diversas, e as vezes meio que automaticamente, nem percebemos o que passou, ficamos tão focados nesse unico sentido que esquecemos como desenvolver os outros, e que outros! Desse papo começamos a colocar a sinestesia em pauta... rs colocando sabor aos sons, perfumes e sensações do tipo: rock ácido e chocante que me passa a sensação de impacto, de choque, de azedinho, um sustinho (risos); cheiro doce e calmo que pra ele é uma sensação de alegria de sorriso - igual criança..., Mas é muito interessante de imaginar como seria a interpretação de um sentido que não se sabe como descrever, tipo uma escultura transparente, um barulho inaudivel, um gosto sem sabor???
    Os sentidos são essenciais e nos fazem sentir vivos... a cada nova musica, novo sabor e cheiro ou até mesmo combinações deles e entre eles mesmos nos fazem querer mais, mais experiencias novas e descobertas para satisfazer nossa fome de sentir, quebrar tabus e preconceitos de forma a vivenciar o novo, junto com o velho, e saber que o melhor e é até engraçado, tem um gosto para cada um! São inumeros os estimulos aos sentidos unicos e agrupadamente que nos fazem viajar, lembrar e vivenciar sensações diferentes. Compartilhar tudo isso é o que motiva a galera, não é? Nada melhor do que não fazer nada... nada melhor do que nada na cuca... Nada na cuca, não sentir nada e deixar de sentir tudo tem graça?

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