segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A insustentável leveza dos raios

Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver. Quem escreve essas
linhas, com a tela desligada, acredita na existência de dois outros
tipos de "cegos" que merecem certa desconfiança: a do que imagina também
não ser visto,
 a ser abordado em um próximo rabiscar, provavelmente só ano que vem, e
o que se apega a situações que jura ter visto. Trata-se daquele que vê
coisas e espera a solução para problemas que os outros desconhecem.
Encasqueta com a falta de resposta a uma mensagem que a operadora de
celular não enviou, ou fez tantos rodeios que era praticamente
impossível entender se era só algum devaneio ou demandava algum tipo de
manifestação. É algo como esperar um convite para um cineminha
escrevendo que o tempo está chuvoso e que gosta de tal ator. Esse
indivíduo que tem ilusões de ótica Exige confiança, mas se mostra
inseguro. Não quer que a simpática atendente da lanchonete se preocupe
com os degraus que o olham com cara de desafio até a calçada mais
próxima. Comenta que todos os dias sobe até o 7º andar em seu trabalho,
mas fica sem esboçar alguma reação racional quando derruba o suco de
morango e fica mais vermelho que o líquido a melar calça, cadeira e
chão. Fala que não gosta da chuva, mas sente alguma emoção quando ouve o
estrondo que vem dos céus, precedido de um clarão e alguém gritando,
ainda que para dentro: "nossa, esse vai ser forte!". Trovões são como
alguns propósitos: trazem uma luz, fazem o maior estardalhaço, mas
poucas vezes mudam o curso natural das coisas. O fato é que, de trovão
em trovão, as núvens tornam-se menos carregadas e, quando já fartas de
perderem a água que as sustenta, deixam o sol, ou a lua, reassumirem a
direção. Quando se acredita andar nas núvens, ocilações pelo caminho são
certeiras. Áreas de instabilidade não são comuns só nas viagens aéreas,
mas também quando se acredita ter os dois pés no chão. Sem elas a
calmaria seria rotina, passaria despercebida. Um brinde aos sucos
derramados, às meias molhadas, às expectativas construídas em bases
infundadas, às lamentações sem propósito e às idéias passageiras que nos
fazem sacudir a poeira e seguir em frente, deixando no ar a impressão de
que alguma coisa aconteceu.

2 comentários:

  1. Olá!
    Gostaria de dizer que sou uma colega sua de trabalho e que admiro muito seu blog, seus textos... Parabéns!
    E gostaria de saber de você uma coisa, que até me intriga: como você lida com a solidão, quando está no seu "cafofo", sem a parceria dos colegas de trabalho e de "baladinhas"? Me desculpe se isso é algo inoportuno de se perguntar, mas não resisti. E por favor, não de ofenda... Pois acho que tenho muito o que aprender com você.
    Obrigada pela sua atenção!
    Um abraço!

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  2. Olá Carla! Fico muito grato quando alguém se manifesta por aqui, pois a idéia é
    que eu possa falar sobre o que mais se tem curiosidade, como digo no texto que
    tô pra terminar. Indo direto ao assunto: sinto as mesmas fraquesas, desejos,
    cobranças e angústias de qualquer outro vivente, embora adore minha liberdade
    (chegar em casa e poder tirar a roupa, lavar louça ouvindo a música que eu gosto
    e no horário que eu quero, por exemplo).
    Tem dias que sair da cama parece tão difícil quanto encontrar o sono naquela
    noite longa, ou que pouca coisa parece fazer sentido. Nessas horas prefiro ficar
    quieto em casa, lendo jornal, um texto descontraído, assistindo tv. Se a
    ansiedade é grande, desconto nos doces e depois me jogo na esteira, não
    necessariamente nessa ordem. Ou então saio para dar uma caminhada, sem rumo mas
    por caminhos conhecidos. E aí o frentista do posto pergunta onde vou passar o
    Natal, o da banca fala que tô de carro novo e conheço alguém na outra esquina,
    que tava indo pro mesmo lugar. A rua é um divã coletivo, pretendo escrever mais
    sobre isso. Hoje trocamos contatos com muita facilidade (prova disso é que a
    gente nem se conhece e estamos compartilhando tantas idéias). Mas muitas vezes
    essas relações não vão além do "curtir", ou um "kkk" no comentário. Em fim, acho
    que falei de tudo ao mesmo tempo, mas espero que tenha dado pra entender que as
    coisas não mudam muito. Um abraço e a gente se encontra por aí

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