quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

No Automático

3 da manhã; a música ensurdece os demais sentidos. Estamos ali, em pé, pro sono
não dar pé. Cada um em seu celular, eu sem do ouvido poder enxergar o que
vibrava. Penso na pergunta da moça do aeroporto na ida: "Alguém mexeu na sua
bagagem sem altorização?". E se eu responder, só de sacanagem: "que eu tenha
visto não."? Fico ali, no silêncio que precede qualquer atitude, pensando se ela
ri de canto de olho, faz sinal de curti ou olha com cara de "e agora, Jozé!",
enquanto procura o radinho. "Qap, na escuta, Charlie Bravo, aqui um delta victor
visual bland que não sabe se mexeram em seu volume". Opa, peraí, em meu volume
ninguém mexeu! Não, jamais aumentaria o tom. Me renovariam o script de perguntas
- na verdade só era em ordem aleatória. Uma comissão de 3 supervisores decidira
por abrirem a mala. E se não der tempo de embarcar? E se nada lá encontrarem?
Algum movimento me puxa pro presente: o da minha esquerda aproveita que todos se
levantaram pro aplauso e anuncia a partida. Alguém o convence a ficar, desisto
de também ser instado a não ir. Outra banda ensurdece qualquer resquício de
conversa, até o gelo do copo seca. Já no check in, só o que consegui responder à
pergunta sobre minha bagagem foi "Não.". O momento não era pra piada; álito
pegajoso, cara quase serrada, ouvido ainda com zumbido da música em tom
verborragido - opto pelo script mais célere e garantido; no automático.

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