quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Registrando a saudade

Hoje me peguei novamente dialogando com fotos, as mesmas que eu nunca vi. Arrumo
a legenda de umas, que o teclado pequeno do celular e a pressa não ajudaram na
grafia, advinho quem terá curtido outras tantas. Lugares, datas e pessoas
marcadas me fazem tentar recordar aquele momento. Já os comentários pouco
informam e quase se repetem, em maior ou menor grau de sinceridade: "tá mais
magro", "que delícia", "aproveita aí", e talvez um dos mais frequentes:
"saudades!". Tiradas antes da primeira garfada ou de uma visão mais atenta do
local, ficam disponíveis para a apreciação dos amigos (e dos amigos dos amigos)
tão logo haja uma conexão disponível. Mecanicamente já me encontro tão
acostumado com o processo que, após uma breve descrição do que me cerca, já faço
mentalmente a pergunta: será digno de uma foto? "Fica assim, que aparece você e
o prédio ao fundo", me diz o amigo antes do enquadro final. Do fundo de meus
devaneios, tento mentalizar o tal fundo, mas sequer conheço o bonequinho que
ilustra o "não fundo". "Você saiu sério nessa, mas o skyline ficou perfeito", me
diz outro. Imagino dezenas de colunas piscantes, de diferentes tamanhos, e uma
cabecinha estampando parte da imagem, mas parece tudo tão confuso.. Ainda assim,
em diferentes poses e propósitos, meu álbum ganha números, nomes, datas e
cidades. Esse emaranhado de dados provoca a tal da saudade: daquele momento,
daquelas pessoas, daquele vento de montanha, daquele cheiro de mar, da confusão
de sabores e idiomas. Ainda que de forma às vezes bem abstrata, o Google me
descreve muita coisa, que depois posso até confirmar com alguém "real" - o
Obelisco portenho realmente parece um pênis gigante, como vi em algum comentário
de blog? Já as sensações são quase que indescritíveis, tanto quanto a saudade,
aquela tão propagada nos comentários das fotos. HA propósito, há tempos não mais
se marcam encontros para mostrá-las, justamente porque já foram vistas quase que
no exato momento em que foram tiradas. Parece mesmo é que, de tão raros que são
os encontros, são esses dignos de uma foto. Não sei se sinto saudades de outros
tempos (talvez eu sequer tenha vivido em outra época), mas o fato é que, ainda
que nunca me tragam à memória grandes imagens, fotos sempre me dão saudades.

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